
Lilo & Stitch e a crítica ao colonialismo
Lilo & Stitch é uma animação da Disney de 2002 sobre duas irmãs havaianas e um alienígena desajustado chamado Stitch. À primeira vista parece apenas uma história divertida, mas é possível enxergar temas mais profundos no filme, que servem como crítica sutil ao colonialismo, não é uma leitura literal da obra, mas ao mesmo tempo que consegue ser sutil e dúbia, consegue ser densa e precisa em suas criticas, sem ser agressiva, ela tenta demonstrar os efeitos e resultados que são reflexos em sua comunidade local. No coração da narrativa está a cultura havaiana: a produção retrata tradições locais na trama. Até mesmo o lema do filme resume essa mensagem de união e resistência: como Lilo diz, “Ohana significa família, e família significa nunca abandonar ou esquecer”. A seguir, exploraremos como esses elementos se relacionam à crítica ao colonialismo nos aspectos da cultura, do território, da família e do controle social.
A chegada de Stitch, um experimento alienígena, faz analogia a colonização do Havaí, a cultura alienígena pode ser reflexo do choque cultural, tecnológico e apresentada como uma ameaça a cultura havaiana de Lilo e Nani.
Cultura havaiana e influências externas
Em Lilo & Stitch, a cultura nativa é tratada com destaque e respeito. Os criadores pesquisaram as tradições locais e até incluíram o dialeto havaiano (uma forma de inglês pidgin) e músicas tradicionais na animação, dando uma “autenticidade” que agradou ao público local. O filme mostra até a canção ‘Aloha ʻOe’ (da última rainha Liliʻuokalani) em uma cena decisiva em que Lilo sente saudade de Nani. Ao mesmo tempo, há críticas sutis às influências externas: Lilo é fã de Elvis e turistas brancos aparecem caricaturados, evidenciando o choque cultural; como observa um analista, a animação “romantiza” o Havaí, mas mostra os “desafios devido ao imperialismo americano” sobre as ilhas. Assim, o filme celebra a cultura havaiana e suas tradições, enquanto destaca as pressões coloniais sobre ela.
Território colonizado e tensões econômicas
O cenário do Havaí no filme ou desenho lembra um arquipélago isolado porém dependente de interesses externos. Apesar de suas paisagens exuberantes, Lilo & Stitch evidencia que Kauaʻi vive do turismo: a economia local “depende” dos casais em lua de mel e de shows em hotéis, e fora do setor de turismo Nani mal encontra alternativas de emprego, ah não ser o de fachada em que se encontra, os trabalhos são sempre sazonais e dependem exclusivamente do turismo local.. Essa dependência de visitantes estrangeiros reflete uma dinâmica pós-colonial: o Havaí real, que foi um reino independente anexado pelos EUA, parece continuar sujeito às decisões externas. Em vez de retratar apenas um refúgio paradisíaco, o filme sugere um espaço nativo que luta para manter sua autonomia diante do controle americano.
Ohana e o embate com o sistema ocidental
No centro de Lilo & Stitch está o conceito de ʻohana — a palavra havaiana para família, no sentido de laços amplos e duradouros. Lilo deixa claro que “Ohana significa família, e família significa nunca abandonar ou esquecer”. O filme também ensina o conceito de hānai, isto é, família adotiva ou estendida, reforçando a ideia de que todo membro da comunidade é importante, a família havaiana nativa é construída em torno de aceitação e zelo, contrapondo a pratica colonialista de desmembramento do seio familiar.
Há uma forte resistencia por parte dos nativos na trama contra a colonização, sempre buscando se adaptar e aceitar ao invés de lutar e se subjugar totalmente, o objetivo é sobreviver em meio a tanta atrocidade e preservar a família.
Essa visão entra em choque com os sistemas institucionais ocidentais: o assistente social Cobra Bubbles, por exemplo, repreende as garotas sem entender seu modo de vida, enquanto o professor Puloki, um havaiano, é solidário e compreensivo. Esse confronto destaca como a solidariedade nativa (onde ninguém deve ser deixado para trás) desafia as regras rígidas que tentam enquadrar Lilo e Nani em padrões externos.
Sistema penal e controle social
O filme começa retratando um julgamento rígido: Jumba, o cientista alienígena, é acusado pela Federação Galáctica de realizar “experimentos genéticos ilegais”, e Stitch (o Experimento 626) é condenado à prisão como um agente de caos. Essa autoridade interestelar autoritária representa um sistema de controle que não tolera o diferente: Stitch é caçado como um monstro e considerado “fora da ordem”. Esse enredo lembra um paralelo colonial: assim como regimes opressores rotulam e perseguem povos indígenas ou dissidentes, a Federação impõe sua lei sem misericórdia. No final, porém, é a própria noção de família (ohana) que questiona esse julgamento — Lilo prova que um “monstro” pode pertencer à comunidade, sugerindo que a empatia supera o controle rígido.
Perda de Identidade
A cultura nativa da família de Lilo, sofre ameaça constante em meio as pressões externas, sejam turisticas ou aliens, incluindo o governo que toma medidas drásticas como a tentativa de remoção ou até prende-los. O autoritarismo e tantativa de segregação familiar são marcas fortes em contextos coloniais e são evidenciados de forma notoria no desenho, são como uma forma de apagamento social e cultural.
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