Filme: Dentro (2023)

Dentro: O abismo entre a arte e a existência



*Dentro*, dirigido por Vasilis Katsoupis e estrelado por Willem Dafoe, não é apenas um filme de sobrevivência — é uma meditação filosófica sobre o ser, o tempo e a arte. Preso em um apartamento de luxo repleto de obras-primas, Nemo (Dafoe), um ladrão de arte, se vê confrontado não apenas com as barreiras físicas do confinamento, mas com os limites do seu próprio eu.


O filme é construído sobre o paradoxo da abundância estética e da miséria existencial. Cercado por objetos de beleza inestimável, Nemo é gradualmente despojado de suas necessidades mais básicas: comida, higiene, calor. O cenário, quase teatral, remete à caverna de Platão — não há luz natural, apenas reflexos, imagens, fragmentos da realidade representada. E, como na alegoria, Nemo é forçado a encarar a verdade da sua condição.


Essa narrativa claustrofóbica se transforma em uma alegoria nietzschiana do eterno retorno: preso em um looping de sobrevivência e criação, o protagonista se reinventa como artista, vandalizando e reinterpretando o espaço que o aprisiona. A arte, antes motivo de seu crime, se torna um meio de expressão quase espiritual. 

Nesse processo, *Dentro* questiona: a arte nos liberta ou nos aprisiona? É possível encontrar sentido em um mundo sem saída?


O filme também dialoga com Heidegger, principalmente em sua concepção de *estar-no-mundo*. Isolado, Nemo perde todas as referências do tempo cronológico e mergulha em uma temporalidade existencial — o presente eterno do desespero e da criação. É nessa suspensão do tempo que sua consciência floresce, não como redenção, mas como lucidez dolorosa.



*Dentro* é um filme silencioso, inquietante, quase litúrgico. É uma experiência sensorial e filosófica que desafia o espectador a refletir sobre os muros — reais e simbólicos — que nos separam do mundo, dos outros e de nós mesmos.


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